14.12.10

Pai Natal

Olha, Pai Natal


Este ano não quero prendas.
Não quero jogos, nem música,
não quero jóias, nem roupas,
nem sequer vou viajar.


Não te quero cá Pai Natal.


Quero antes que dês
mimos a quem precisa,
calor a quem tem frio.
Que faças rir quem não sabe,
ou pelo menos sorrir.
Que sintas o que faz falta
à gente que nada tem.
Que ouças o que tem para dizer
a gente que nada diz.


Olha, Pai Natal,
olha para esses olhares
que escondem mais do que mostram,
que calam mais do que falam
e ainda assim quase riem.


Não, Pai Natal,
este ano não te quero cá,
vais ter tanto que fazer...

8.12.10

florbela espanca


a 8 de dezembro nasceu Florbela Espanca
a 8 de dezembro se suicidou
entre 1894 e 1930, passaram apenas 36 anos


o tempo
para sentir a charneca alentejana...
"... a minha triste charneca
donde nasceu a minha triste alma..."

o tempo
para viver o alentejo...
"... tive os melhores professores
de tudo (em évora)
de bordados, de pintura,
de música, de canto,
e afinal sou uma eterna curiosa
de livros e alfarrábios,
e mais nada..."

o tempo
para os amores e desamores...
"... o melhor beijo, o beijo mais doce,
aquele que se não esquece nunca,
é aquele que nunca se deu..."


o tempo
para partir...
"... eu não posso;
viverei um terço do que
poderia viver
porque todas as pedras
me ferem...
...tudo é tão feio e tão sujo
e tão triste..."

o tempo para ficar, para sempre...

7.12.10

Ary dos Santos


José Carlos Ary dos Santos nasceu em Lisboa a 7 de Dezembro de 1936.
Passam hoje 74 anos.

Enfant terrible, filho de uma família burguesa, Ary dos Santos cedo saíu de casa, optando por uma vivência independente na sua Rua da Saudade, em Alfama.

Poeta, diseur, contestatário e boémio, foi um dos maiores "poetas das cantigas" que Portugal conheceu.

Foram mais de 600, os poemas que escreveu, cantados por alguns, soletrados por muitos, aplaudidos por (quase) todos.
"Os Putos", "Cavalo à Solta", "Tourada", "Meu Amor, Meu Amor", "Poeta castrado, não!" e muitos mais, ficarão como testemunho ímpar de um poeta genial.

Faleceu prematuramente com apenas 47 anos.

5.12.10

Raul Brandão


Raul Brandão faleceu a 5 de Dezembro de 1930.
Passam hoje 80 anos.

Militar por obrigação e escritor por vocação, Raul Brandão começou por escrever em jornais e revistas, tendo sido, com Raul Proença e Jaime Cortesão, entre outros, um dos fundadores da "Seara Nova".

Após o abandono do exército, viveu entre a Foz do Douro, onde nascera, e a Casa do Alto, que construira perto de Guimarães.
Na Foz, o mar. Na Casa do Alto, a terra.
Na Foz, as memórias dos seus pai e avô, homens do mar. Na Casa do Alto, os ciclos da natureza.

Amigo de Pascoaes, António Nobre, Aquilino e Jaime Cortesão, Raul Brandão foi um escritor notável.
"Os Pobres", "Os Pescadores" e "Humus" (um dos grandes livros do séc. XX), são bem o exemplo disso.

As suas "Memórias", de leitura obrigatória, são essenciais para o conhecimento histórico-político da época.

3.12.10

Renoir

A 3 de Dezembro de 1919, faleceu Pierre-Auguste Renoir.
Passam hoje 91 anos.

Um dos grandes nomes do impressionismo,
Renoir nasceu em Limoges, filho de um alfaiate e de uma costureira.
Viveu depois em Paris e instalou-se em Montmartre.

A sua pintura balanceou entre o impressionismo, onde a cor, a luz e o movimento eram o seu principal elemento e uma fase posterior, mais figurativa.

"Le moulin de la galette", pintado em 1876 em Montmartre é a sua obra-prima. Retratando um baile típico do quotidiano burguês parisiense, Renoir consegue, através de pinceladas de cores vibrantes, captar a atmosfera e a vivacidade do momento.


2.12.10

viagem

Miguel Simão
é um poeta da imagem

a sua fotografia
insinua sem desvendar,
toca-nos os sentidos,
cola-se-nos à pele

das viagens,
das gentes e dos lugares,
dos olhares

quero seguir este barco
até lá, à ilha da poesia...

Pietà

Miguel Angelo foi um génio.
Das artes, de todas as artes,
de Florença e do Renascimento.

Baco e David que o digam,
e ainda Moisés,
e os Médici também.

Do belo e do trágico
tem no Vaticano um lugar especial,
a Capela Sistina, o Juízo Final...

     ...mas Pietà é absolutamente sublime, uma obra-prima.

30.11.10

fernando pessoa


Passam hoje 75 anos sobre a morte
de Fernando Pessoa.

de Pessoa poderia falar da solidão ou do desassossego,
do Orppheu ou do sensacionismo,
da intimidade ou do mistério,
da Mensagem ou da heteronímia.

Poderia falar de tudo e tudo ficaria por dizer.


"... Há três espécies de Portugal, dentro do mesmo Portugal; ou, se se preferir, há três espécies de português. Um começou com a nacionalidade: é o português típico, que forma o fundo da nação e o da sua expansão numérica, trabalhando obscura e modestamente em Portugal e por toda a parte de todas as partes do Mundo. Este português encontra-se, desde 1578, divorciado de todos os governos e abandonado por todos. Existe porque existe, e é por isso que a nação existe também.

Outro é o português que o não é. Começou com a invasão mental estrangeira, que data, com verdade possível, do tempo do Marquês de Pombal. Esta invasão agravou-se com o Constitucionalismo, e tornou-se completa com a República. Este português (que é o que forma grande parte das classes médias superiores, certa parte do povo, e quase toda a gente das classes dirigentes) é o que governa o país. Está completamente divorciado do país que governa. É, por sua vontade, parisiense e moderno. Contra sua vontade, é estúpido.

Há um terceiro português, que começou a existir quando Portugal, por alturas de El-Rei D. Dinis, começou, de Nação, a esboçar-se Império. Esse português fez as Descobertas, criou a civilização transoceânica moderna, e depois foi-se embora. Foi-se embora em Alcácer Quibir, mas deixou alguns parentes, que têm estado sempre, e continuam estando, à espera dele. Como o último verdadeiro Rei de Portugal foi aquele D. Sebastião que caiu em Alcácer Quibir, e presumivelmente ali morreu, é no símbolo do regresso de El-Rei D. Sebastião que os portugueses da saudade imperial projectam a sua fé de que a famí1ia se não extinguisse.

Estes três tipos do português têm uma mentalidade comum, pois são todos portugueses mas o uso que fazem dessa mentalidade diferencia-os entre si. O português, no seu fundo psíquico, define-se, com razoável aproximação, por três característicos: o predomínio da imaginação sobre a inteligência; o predomínio da emoção sobre a paixão; a adaptabilidade instintiva... ", Fernando Pessoa, Sobre Portugal - Introdução ao Problema Nacional

29.11.10

telhados


já não há telhados assim

as telhas de canudo
moldadas nas coxas doridas,
as lágrimas de chuva
ritmadas como o relógio do tempo,

as andorinhas
filhos pródigos de todos os anos,

as ervas
de raízes ao sol, à chuva e ao vento,
as sombras
de nostalgia ampliada...

... gosto do ocre, gosto de telhados assim.

                                                                                                          
 (fotografia de octávio oliveira)

alentejo




no alentejo
a lua não finge
o sol não se esconde
o tempo não foge

no alentejo
o velho não chora
a chuva não molha
o tempo não foge

a vista não cansa
a dor não se sente
o tempo não foge

gosto do alentejo
onde o tempo não finge
e a lua não foge

(poema vencedor do Concurso de Poesia da Biblioteca Municipal Florbela Espanca de Matosinhos, dezembro 2010)

preguiça


este é um blog para me ir espreguiçando
devagar, mastigando o tempo
gota a gota, palmo a palmo
pé ante pé...