18.8.14

A ciência da impotência

Há alguns anos, não muitos, o negócio da indústria farmacêutica inventou mais uma slot-machine: o comprimido azul, o tal que dizem fazer milagres quando a “fé” nos começa a faltar. 
Sinceramente eu, como agnóstico, não sofro de crises doutrinárias e, não será por mim que os laboratórios se alimentam.

Vem isto a propósito de outro tipo de impotência, bem mais grave e preocupante, e para a qual não há ciência que a resolva, ou a queira resolver. Falo-vos da impotência das lideranças políticas mundiais, perante as tragédias do médio oriente ou da Ucrânia.

A indiferença crescente com que assistimos da mesma forma, a um massacre na faixa de Gaza ou ao sorteio do euromilhões, é perigosa e preocupante.

Bem sei que a história da humanidade está cheia de paradoxos. Que o que sobra a alguns, faltará a muitos mais. Que nós por cá, habituados à neutralidade histórica, somos, na política internacional, cada vez mais um zero à esquerda, salvo seja.

O que se passou recentemente, com a entrada da Guiné equatorial na CPLP (supostamente a Comunidade de Países de “Língua Portuguesa” e não do “Lado do Petróleo”), é bem o exemplo de que, cada vez mais, os interesses económicos se sobrepõem aos valores da ética e da moral.

Com o alto patrocínio dos países mandantes (Angola e Brasil), foi pungente assistir a Xanana Gusmão de mão dada com o ditador Obiang. Sim, o mesmo Xanana que há vinte anos lutava contra o invasor Indonésio, e por quem todos acendemos uma velinha em cordões humanos de solidariedade irrepetível. Tudo isto com Cavaco e Passos a mastigar em seco e Dilma e Eduardo dos Santos a assobiar para o lado.

Feito o diagnóstico (impotência das lideranças políticas e económicas), resta-nos a terapêutica adequada. 
Três comprimidos coloridos por dia: em jejum, tomar o verde-esperança, na dose certa; ao almoço, o branco-paz, para que o cessar fogo se mantenha; ao deitar, o azul-alerta, porque resistir é preciso.

(nota: em caso de permanência dos sintomas, resta-nos mudar de planeta)




                      adelino pires | alfarrabista, 29 julho 2014

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