Há alguns anos, não muitos, o negócio da indústria
farmacêutica inventou mais uma slot-machine:
o comprimido azul, o tal que dizem fazer milagres quando a “fé” nos começa a faltar.
Sinceramente eu, como agnóstico, não sofro de crises doutrinárias e, não será
por mim que os laboratórios se alimentam.
Vem isto a propósito de outro tipo de impotência, bem mais
grave e preocupante, e para a qual não há ciência que a resolva, ou a queira resolver.
Falo-vos da impotência das lideranças políticas mundiais, perante as tragédias do
médio oriente ou da Ucrânia.
A indiferença
crescente com que assistimos da mesma forma, a um massacre na faixa de Gaza ou
ao sorteio do euromilhões, é perigosa e preocupante.
Bem sei que a história da humanidade está cheia de paradoxos.
Que o que sobra a alguns, faltará a muitos mais. Que nós por cá, habituados à
neutralidade histórica, somos, na política internacional, cada vez mais um zero
à esquerda, salvo seja.
O que se passou recentemente, com a entrada da Guiné
equatorial na CPLP (supostamente a Comunidade de Países de “Língua Portuguesa”
e não do “Lado do Petróleo”), é bem o exemplo de que, cada vez mais, os interesses
económicos se sobrepõem aos valores da ética e da moral.
Com o alto patrocínio dos países mandantes (Angola e Brasil),
foi pungente assistir a Xanana Gusmão de mão dada com o ditador Obiang. Sim, o
mesmo Xanana que há vinte anos lutava contra o invasor Indonésio, e por quem
todos acendemos uma velinha em cordões humanos de solidariedade irrepetível. Tudo
isto com Cavaco e Passos a mastigar em seco e Dilma e Eduardo dos Santos a
assobiar para o lado.
Feito o diagnóstico (impotência das lideranças políticas e
económicas), resta-nos a terapêutica adequada.
Três comprimidos coloridos por
dia: em jejum, tomar o verde-esperança, na dose certa; ao almoço, o branco-paz,
para que o cessar fogo se mantenha; ao deitar, o azul-alerta, porque resistir é
preciso.
(nota: em caso de permanência dos sintomas, resta-nos mudar
de planeta)
adelino pires
| alfarrabista, 29 julho 2014
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