18.8.14

Gente miúda com mente crescida


Isto de se ser alfarrabista no centro histórico de uma pequena cidade de interior, vale mais pelo que se vive, do que propriamente pelo que se vende. Mas vive-se muito.

Desde quem passa e ainda não conhece, até mesmo, valha-nos isso, a quem conhece e por isso passa, cruzamo-nos com muita gente boa:
os habituais, passageiros frequentes de pesquisa e dois dedos de conversa, os de vez em quando, que matam saudades da terra e metem leitura no saco, e ainda os outros, que vêm quando o rei faz anos o que, em tempos republicanos, percebe-se a falta que fazem.

Apesar de tudo, não me queixo. Gosto do que faço, tento fazer o que gosto, mesmo que pouco faça, que isto da crise e da conjuntura não nos deixa fazer mais.

Mas a verdadeira recompensa é mesmo, quando me entra pela porta, a gente miúda com mente crescida. Chamo-lhes os meus meninos, tenho-lhes um grande carinho e, sobretudo, admiro-os muito. Com tantas tecnologias e outras tantas tentações, ainda encontram tempo e paciência para um passeio no alfarrabista.

Pela companhia que me fazem e por aquilo que com eles aprendo, aqui lhes deixo uma palavra de gratidão.

Ao Hugo e à sua paixão pela História, que com 11 anos apenas  e sempre acompanhado pela mãe, mergulha nos alfarrábios antigos como o Macnmara nas ondas da Nazaré.

À intelectualidade do Afonso, aluno de excelência e leitor com frequência, pachequiano quase convicto, meio alquimista-meio anarquista...

À perspicácia do João, das coisas do Estado Novo às coisas em estado velho...
À militância do Francisco, leitor de todos os ismos, porque a luta continua!
E por fim, à ausência da Inês Pereira, primeira na demanda de partituras antigas e primeira a partir, cedo demais.

Eles representam o que de mais puro tem o alfarrabismo: a procura e a descoberta, a partilha e o encantamento. Sem nada em troca porque tudo se faz apenas com uns trocos.

Obrigado meninos, gente miúda com mente crescida. 
Porque, como disse o poeta, “pelo sonho é que vamos...”


                                                                                            adelino pires | alfarrabista | 28 abril 2014

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