Isto de se
ser alfarrabista no centro histórico de uma pequena cidade de interior, vale
mais pelo que se vive, do que propriamente pelo que se vende. Mas vive-se
muito.
Desde quem
passa e ainda não conhece, até mesmo, valha-nos isso, a quem conhece e por isso
passa, cruzamo-nos com muita gente boa:
os habituais,
passageiros frequentes de pesquisa e dois dedos de conversa, os de
vez em quando, que matam saudades da terra e metem leitura no saco, e ainda
os outros, que vêm quando o rei faz
anos o que, em tempos republicanos, percebe-se a falta que fazem.
Apesar de
tudo, não me queixo. Gosto do que faço, tento fazer o que gosto, mesmo que
pouco faça, que isto da crise e da conjuntura não nos deixa fazer mais.
Mas a
verdadeira recompensa é mesmo, quando me entra pela porta, a gente miúda com
mente crescida. Chamo-lhes os meus meninos, tenho-lhes um grande carinho e,
sobretudo, admiro-os muito. Com tantas tecnologias e outras tantas tentações,
ainda encontram tempo e paciência para um passeio no alfarrabista.
Pela
companhia que me fazem e por aquilo que com eles aprendo, aqui lhes deixo uma palavra
de gratidão.
Ao Hugo e à sua paixão pela História, que com
11 anos apenas e sempre acompanhado pela
mãe, mergulha nos alfarrábios antigos como o Macnmara nas ondas da Nazaré.
À
intelectualidade do Afonso, aluno de excelência e leitor com frequência,
pachequiano quase convicto, meio alquimista-meio anarquista...
À
perspicácia do João, das coisas do Estado Novo às coisas em estado velho...
À militância
do Francisco, leitor de todos os ismos,
porque a luta continua!
E por fim, à
ausência da Inês Pereira, primeira na demanda de partituras antigas e primeira
a partir, cedo demais.
Eles
representam o que de mais puro tem o alfarrabismo: a procura e a descoberta, a
partilha e o encantamento. Sem nada em troca porque tudo se faz apenas com uns
trocos.
Obrigado
meninos, gente miúda com mente crescida.
Porque, como disse o poeta, “pelo
sonho é que vamos...”
adelino pires | alfarrabista | 28 abril 2014
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