Há algum tempo, com a
criatividade que nos caracteriza, o
“penso, logo existo” de Descartes, foi adaptado ao anedotário português como
“penso, logo exílio” de Estaline, ou “penso, logo exijo”, do Prec.
Confesso que, como bom
alentejano, sempre me agradou mais o “penso, logo exausto”.
Era assim uma sensação
de sesta depois de um repasto de boas leituras, fossem contos do Manuel da
Fonseca, poesias da Florbela ou até mesmo ensaios do Ruben A.
É que o problema de
hoje não é da exaustão, mas do pensamento, ou antes, da falta dele.
Não é que se não vá ao
ginásio, nem sou contra uma boa sessão de hidroterapia. Mas essa história do
fitness, running, training e coisas assim, faz-me alguma confusão.
Podem continuar a
muscular-se e a produzir-se, mas, por favor, quem nunca o fez, experimente ler
um pouco, pensar outro tanto e voltar a ler.
Dispensem os best-sellers
e escolham autores portugueses. Dos que escrevem, não dos que editam. Assim
tipo, Aquilino ou Vergílio Ferreira, Sophia ou Eugénio de Andrade, Torga ou
Pascoaes. Para já não falar de Camões, Camilo, Eça ou Pessoa.
E, já agora, experimentem
também, uma vez por semana, aí em casa, ler em voz alta. De uns para os outros.
Experimentem, partilhem. E mesmo quem está sózinho, tente ouvir-se a si
próprio.
Garanto-vos que irão
gostar. E com o tempo, as tvs perderão audiência, a net sofrerá um rombo, mas
todos nós ficaremos menos exaustos, mas mais felizes. Porque lemos mais,
pensamos melhor e, pasme-se, até já falamos uns com os outros.
Mesmo que só através
dos livros.
adelino pires | alfarrabista, 24 junho 2014
Sem comentários:
Enviar um comentário