18.8.14

Penso, logo exausto...

Há algum tempo, com a criatividade que nos caracteriza,  o “penso, logo existo” de Descartes, foi adaptado ao anedotário português como “penso, logo exílio” de Estaline, ou “penso, logo exijo”, do Prec.

Confesso que, como bom alentejano, sempre me agradou mais o “penso, logo exausto”.

Era assim uma sensação de sesta depois de um repasto de boas leituras, fossem contos do Manuel da Fonseca, poesias da Florbela ou até mesmo ensaios do Ruben A.

É que o problema de hoje não é da exaustão, mas do pensamento, ou antes, da falta dele.

Não é que se não vá ao ginásio, nem sou contra uma boa sessão de hidroterapia. Mas essa história do fitness, running, training e coisas assim, faz-me alguma confusão.

Podem continuar a muscular-se e a produzir-se, mas, por favor, quem nunca o fez, experimente ler um pouco, pensar outro tanto e voltar a ler.

Dispensem os best-sellers e escolham autores portugueses. Dos que escrevem, não dos que editam. Assim tipo, Aquilino ou Vergílio Ferreira, Sophia ou Eugénio de Andrade, Torga ou Pascoaes. Para já não falar de Camões, Camilo, Eça ou Pessoa.

E, já agora, experimentem também, uma vez por semana, aí em casa, ler em voz alta. De uns para os outros. Experimentem, partilhem. E mesmo quem está sózinho, tente ouvir-se a si próprio.

Garanto-vos que irão gostar. E com o tempo, as tvs perderão audiência, a net sofrerá um rombo, mas todos nós ficaremos menos exaustos, mas mais felizes. Porque lemos mais, pensamos melhor e, pasme-se, até já falamos uns com os outros.

Mesmo que só através dos livros.



adelino pires | alfarrabista, 24 junho 2014

Sem comentários: