Lembro-me de, em meados dos anos 80, se falar do regresso a
Portugal de uma sumidade portuguesa na neurocirurgia. Lembro-me bem da chegada
de João Lobo Antunes, após muitos anos de permanência nos EUA.
Não cheguei a ser seu aluno, nunca com ele falei, mas sempre
me fascinou.
É uma daquelas figuras de dimensão superior. Em que a
genética e o talento, com uma profunda devoção à causa e muito, mas muito
trabalho, só poderiam resultar num exemplo de excelência.
Nascido numa família da burguesia urbana de Lisboa, João Lobo
Antunes licenciou-se em Medicina com uma média superior a 19 valores, passou
vários anos nos EUA e regressou a Portugal em 1984. Médico de primeira água e
Professor exemplar, fez muito e bem. Foi reconhecido e, por diversas vezes,
justamente premiado.
Na véspera da jubilação, na sua última aula, escolheu como
tema “Uma vida examinada”. E revisitou-se, falando do tempo, da educação e do
sentido da vida. Foi brilhante, uma vez mais.
Há dias, em entrevista ao jornalista António José Teixeira,
João Lobo Antunes, falou com a serenidade do mestre e a lucidez do sábio.
Retive duas ou três frases modelares:
que sempre o impressionou
o facto de num país rico (EUA), se desperdiçar menos que num país de parcos
recursos (Portugal);
que na medicina, é fundamental conhecer o doente que tem a
doença e, não apenas, a doença que o doente tem;
que o consenso mata o
compromisso, mas sem compromissos hipotecamos o futuro.
Num momento em que nos faltam elites de referência, não nos
podemos dar ao luxo de ver jubilar os melhores e ver partir os mais novos e
mais qualificados.
Citando Camões, “o fraco rei faz fraca a forte gente”.
Não
foi o caso de João Lobo Antunes, a quem a Medicina tanto deve e com quem os
seus alunos tanto aprenderam.
Resta-me continuar atento, lendo o que escreve, ouvindo o que
diz.
Adelino Pires | Alfarrabista, 17 Junho 2014
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