18.8.14

Cartas escrevidas...

Que saudades das cartas escrevidas.

Cartas vividas, sentidas, escritas à mão e com o coração.
Em papel manteiga, tinta permanente e permanentemente nostálgicas, a deixar quem as recebia com um brilhozinho nos olhos.

Era o "...espero que esta te encontre de boa saúde na companhia dos teus que eu fico bem graças a deus e também ao calo que agora já não me dói..." e acabavam, invariavelmente, com o "... despeço-me até às festas da aldeia, beijos e abraços a  todos e à vizinha Etelvina, coitadinha, deve estar tão velhinha, mas lembro-me sempre dela..."

Podiam começar e acabar sempre da mesma maneira, mas pelo meio, as pessoas escreviam e amavam muito. E as palavras tinham as letras todas.
Agora com os sms's e ppp's comem-se as vogais, consoante os dedos que dedilham essas máquinas que nunca erram mas pouco acertam, copy past e passa à frente, que tenho mais que fazer. E sem vogais não há poesia.

E também esta coisa do Saramago não pôr pontos nem vírgulas e ainda assim ganhar os prémios, baralha a gente. E mais o acordo ortográfico, brasileiros duma figa.

Enfim, é o tempo ou a falta dele.
A gente corre, corre e não chega a lado nenhum.
A gente não escreve, não lê, e um dia, quando alguém nos amar muito e nos escrevinhar cartas de amor, a gente engole em seco e não responde, porque as máquinas de agora, não sentem, não choram, nem amam.
E a gente não sabe escrever assim, à mão e com o coração.

Por mim, vou continuar como dantes. Com beijos e abraços a todos, mesmo à vizinha Etelvina, que deus já lá tem, coitadinha.




adelino pires | alfarrabista | 12 maio 2014

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