Que
saudades das cartas escrevidas.
Cartas
vividas, sentidas, escritas à mão e com o coração.
Em
papel manteiga, tinta permanente e permanentemente nostálgicas, a deixar quem
as recebia com um brilhozinho nos olhos.
Era
o "...espero que esta te encontre de
boa saúde na companhia dos teus que eu fico bem graças a deus e também ao calo
que agora já não me dói..." e acabavam, invariavelmente, com o "... despeço-me até às festas da
aldeia, beijos e abraços a todos e à
vizinha Etelvina, coitadinha, deve estar tão velhinha, mas lembro-me sempre
dela..."
Podiam começar e acabar sempre da mesma
maneira, mas pelo meio, as pessoas escreviam e amavam muito. E as palavras
tinham as letras todas.
Agora com os sms's e
ppp's comem-se as vogais, consoante os dedos que dedilham essas
máquinas que nunca erram mas pouco acertam, copy past e passa à frente, que
tenho mais que fazer. E sem vogais não há poesia.
E
também esta coisa do Saramago não pôr pontos nem vírgulas e ainda assim ganhar
os prémios, baralha a gente. E mais o acordo ortográfico, brasileiros duma
figa.
Enfim,
é o tempo ou a falta dele.
A
gente corre, corre e não chega a lado nenhum.
A
gente não escreve, não lê, e um dia, quando alguém nos amar muito e nos
escrevinhar cartas de amor, a gente engole em seco e não responde, porque as
máquinas de agora, não sentem, não choram, nem amam.
E
a gente não sabe escrever assim, à mão e com o coração.
Por
mim, vou continuar como dantes. Com beijos e abraços a todos, mesmo à vizinha Etelvina,
que deus já lá tem, coitadinha.
adelino pires | alfarrabista | 12 maio 2014
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