Esta foi uma semana de traumatismos. Incomparáveis no tempo, comparáveis
na dor. É assim a mediatização dos dias que correm.
Começou mal a semana. Com a estúpida morte do André, filho da
Judite e do Pedro. Sim, porque como alguém escreveu algures, ele também tinha
pai.
A perda de um filho será sempre a dor maior. Por estes dias, decerto outros
pais terão perdido outros filhos. Não sei como se lida com uma tragédia assim.
Dizem que, para quem cá fica, a vida continua, mas, estou seguro, que a morte continuará
também.
Por vezes, parte primeiro quem deveria partir depois. É a natureza
do avesso.
Incomparável no tempo, mas comparável na dor, comemorou-se também,
o centenário dos acontecimentos que precipitaram a I Grande Guerra.
Foram milhões
os que perderam a vida, pais que perderam os filhos, filhos que perderam os
pais, nações que perderam o rumo.
Esquecemo-nos, por vezes, que na primeira metade do passado
século, duas Guerras na Europa devastaram países, destroçaram famílias,
dizimaram futuros. E a Ucrânia aqui tão perto...
Nestes cem anos o mundo mudou.
Afogámo-nos em tecnologia,
investigação e desenvolvimento. A medicina da intuição e do estetoscópio deu
lugar à ciência da ressonância. A pedagogia da palmatória é hoje um manual de
instruções para pais e professores de meninos mimados. O automóvel substituiu a
carroça e o burro. Ou, talvez, apenas a carroça. E na justiça, a razão de ontem
é o cifrão de hoje.
É verdade que nestes cem anos o mundo mudou.
Mas, apesar de
tudo, continua a bastar um descuido na piscina ou um traumatismo (u)craniano
para mudar uma vida ou milhões delas.
Hoje, como ontem, todo o cuidado é pouco.
adelino Pires
| alfarrabista, 30 Junho 2014
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