18.8.14

Traumatismo (U)craniano...

Esta foi uma semana de traumatismos. Incomparáveis no tempo, comparáveis na dor. É assim a mediatização dos dias que correm.

Começou mal a semana. Com a estúpida morte do André, filho da Judite e do Pedro. Sim, porque como alguém escreveu algures, ele também tinha pai.

A perda de um filho será sempre a dor maior. Por estes dias, decerto outros pais terão perdido outros filhos. Não sei como se lida com uma tragédia assim. Dizem que, para quem cá fica, a vida continua, mas, estou seguro, que a morte continuará também.

Por vezes, parte primeiro quem deveria partir depois. É a natureza do avesso.

Incomparável no tempo, mas comparável na dor, comemorou-se também, o centenário dos acontecimentos que precipitaram a I Grande Guerra. 
Foram milhões os que perderam a vida, pais que perderam os filhos, filhos que perderam os pais, nações que perderam o rumo.

Esquecemo-nos, por vezes, que na primeira metade do passado século, duas Guerras na Europa devastaram países, destroçaram famílias, dizimaram futuros. E a Ucrânia aqui tão perto...

Nestes cem anos o mundo mudou. 
Afogámo-nos em tecnologia, investigação e desenvolvimento. A medicina da intuição e do estetoscópio deu lugar à ciência da ressonância. A pedagogia da palmatória é hoje um manual de instruções para pais e professores de meninos mimados. O automóvel substituiu a carroça e o burro. Ou, talvez, apenas a carroça. E na justiça, a razão de ontem é o cifrão de hoje.

É verdade que nestes cem anos o mundo mudou. 
Mas, apesar de tudo, continua a bastar um descuido na piscina ou um traumatismo (u)craniano para mudar uma vida ou milhões delas. 
Hoje, como ontem, todo o cuidado é pouco.



adelino Pires | alfarrabista, 30 Junho 2014

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