18.8.14

Os portugais de Portugal

Com o Verão e a chegada dos emigrantes, mais se acentua a diversidade entre os portugais de Portugal. 

Sem regionalismos excessivos, sabemos bem que é diferente ser-se do norte ou do sul, urbano ou provinciano, continental ou insular.

No Minho, Beiras e Trás os Montes, não há lugar ou freguesia que não festeje o padroeiro. Orgulhosamente, os mordomos vestem-se a rigor e as festas e romarias daquelas gentes, são lugares de encontros, reencontros e saudades, mortas com a chouriça e o caneco.

Ao invés, mais a sul, o tempo é de praia, de festivais de verão, onde o bronzeado e a tatuagem, desfilam em passerelas de vaidade. 
                                                             
Nas grandes cidades, os cruzeiros e os low-cost, fizeram de Lisboa e Porto capitais do turismo enlatado, entre um faducho inspirado e um bom cálice de “três velhotes”.

Mas seja aqui ou acolá, não fazemos a coisa por menos. 
Há sempre algo que nos une, que nos distingue dos “camones, chinocas e afins”. A sardinha, o bacalhau e o vinho do Porto, o Zé Povinho e o galo de Barcelos, são nossos e só nossos, e onde há um português, lá estão eles. São a nossa imagem de marca, estão presentes nas mesas fartas, recheiam as lojas de “souvenirs” e têm na sua essência uma história de trabalho e sofrimento.

Na sardinha e no bacalhau, fiel amigo e cozinhado de mil maneiras, se homenageia a coragem dos pescadores do atlântico ou dos dóris da Terra Nova.

Nos socalcos do Douro, feitos com o suor das gentes do norte e da galiza (daí virá o “trabalhar que nem um galego”), se produz aquele que, “very british” é, sem dúvida, um dos mais chics vinhos do mundo.

Na lenda do galo de Barcelos, se revê a justiça popular, quando o acusado, injustamente condenado à morte, fez com que o galo do repasto do juiz, ressuscitasse do banquete e cantasse alto e bom som a sua inocência.

E já secular mas ainda actual, a sabedoria popular eternizou para sempre o génio de Bordalo Pinheiro. 
Afinal, o Portugal dos portugais, hoje mais que nunca, bem precisa de dez milhões de “Zé Povinhos”. Ora toma! ...



                                                         adelino pires | alfarrabista, 22 Julho 2014

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